O primeiro a ser chamado para ser missionário, foi um homem de 75 anos, que morava na cidade de Ur, dos Caldeus, no sul da Mesopotâmia. Esse homem, Abrão, ouviu a voz de Deus lhe orientando para sair da sua casa e do meio dos seus parentes, para uma terra que ele não conhecia. “Então o Senhor disse a Abrão: “Saia da sua terra, do meio dos seus parentes e da casa de seu pai, e vá para a terra que eu lhe mostrarei”. (Gênesis 12:1). Abrão obedeceu e começou a sua viagem missionária, mesmo não sabendo no início, como ele seria o pai de um povo que ia invocar o nome do Senhor, e seria conhecido como o povo de Deus.
Quais recursos que Abrão tinha para empreender essa jornada ao desconhecido? A resposta para essa pergunta é crucial para todos os que são chamados para missão, como foi para Abrão. O recurso que Abrão tinha, e o mais valioso, estava alicerçado em três princípios.
Primeiro, a necessidade de conhecer Deus. O Deus que lhe chamou! Conhecer seus nomes, seu caráter, seu amor, sua provisão, sua segurança, sua presença e fidelidade. Isso aconteceu de forma progressiva e gradativa na vida de Abrão, como também acontece na vida de missionários que estão no campo. Aqui aprendemos que a base do chamado missionário está no conhecimento de Deus, e esse conhecimento vai além de um conhecimento racional, mas, passa a ser um conhecimento relacional, onde o missionário como Abrão, experimenta quem é Deus em sua jornada de fé e obediência. “Pela fé Abraão, quando chamado, obedeceu e dirigiu-se a um lugar que mais tarde receberia como herança, embora não soubesse para onde estava indo. Pela fé peregrinou na terra prometida como se estivesse em terra estranha; viveu em tendas, bem como Isaque e Jacó, co-herdeiros da mesma promessa”. (Hebreus 11:8,9).
Segundo, a necessidade de estabelecer um canal de comunicação com Deus. Deus é Espírito, Deus fala, Deus ouve as orações, Deus comunica os segredos do seu coração, e o missionário precisa aprender a ouvir. Abrão se comunicava inicialmente com Deus através de altares de adoração que ele levantou em sua jornada. Esses altares eram como o seu telefone, pelo qual Abrão se comunicava com o Senhor e o Senhor com Abrão. O que significa altar com o Céu? Altar é um lugar de sacrifício, esse é o sentido tanto no hebraico como no grego. Sem sacrifícios diários, em levantar o altar de adoração ao Senhor, para se relacionar com Ele, para ouvi-lo, para se comunicar com o Senhor, é impossível cumprir a missão e obedecer ao chamado.
A primeira comunicação do Senhor com Abrão, foi iniciativa total de Deus. Vemos isso em Gênesis 12:1-4: “Então o Senhor disse a Abrão: Saia da sua terra, do meio dos seus parentes e da casa de seu pai, e vá para a terra que eu lhe mostrarei. Farei de você um grande povo, e o abençoarei. Tornarei famoso o seu nome, e você será uma bênção. Abençoarei os que o abençoarem, e amaldiçoarei os que o amaldiçoarem; e por meio de você todos os povos da terra serão abençoados. Partiu Abrão, como lhe ordenara o Senhor, e Ló foi com ele. Abrão tinha setenta e cinco anos quando saiu de Harã”. A iniciativa do chamado nunca é do homem, do missionário, mas é sempre de Deus. Esse chamado inicial libera as diretrizes que acompanharão o missionário em toda a sua jornada, lhe conferindo fé, esperança, força e clareza para continuar a missão em tempos difíceis.
A segunda comunicação do Senhor com Abrão, foi em Siquém, terra dos Cananeus. “O Senhor apareceu a Abrão e disse: “À sua descendência darei esta terra. Abrão construiu ali um altar dedicado ao Senhor, que lhe havia aparecido”. (Gênesis 12:7). Observe que a terra que o Senhor prometeu dar para Abrão e sua descendência, era uma terra ocupada. Diferente da primeira vez, em que Deus disse: “Vai para a terra que te mostrarei”, em Siquém, Deus aparece e diz: “Te darei esta terra”. Observe que na medida que obedece ao Senhor, nesse relacionamento no altar de adoração, Deus começa a esclarecer mais nitidamente a missão, com mais detalhes. Por isso a obediência a Deus e o relacionamento diário no altar de adoração e sacrifício, traz clareza e revelação, sobre a terra, o povo da terra, e os propósitos do Senhor para aquele lugar, direcionando o missionário em sua jornada.
A terceira comunicação do Senhor com Abrão, foi entre Betel e Ai. Observe que mesmo o Senhor aparecendo para Abrão em Siquém, Abrão não ficou parado. Essa é uma lição importante que todo missionário precisa aprender, não é porque Deus se revelou em um lugar, que vamos parar e santificar esse lugar. Lembrem-se: O serviço missionário é uma jornada dinâmica na terra que fomos enviados. Aqui, entre Betel e Ai, Abrão levanta um altar, e invoca ao Senhor, mas ouve um silêncio, não se menciona que Deus falou com Abrão nesse altar. Betel significa casa de Deus, Ai, significa lugar de ruina. Abrão estava agora chegando a um lugar de decisão, entre um caminho que levava a casa de Deus ou ao montão de ruínas. O missionário como Abrão, passa também por períodos de silencio de Deus, e nesses períodos ele precisa tomar decisões. Abrão tomou a decisão errada, ele decidiu baseado no que via – “fome na terra”, e desceu para o Egito. “Dali prosseguiu em direção às colinas a leste de Betel, onde armou acampamento, tendo Betel a oeste e Ai a leste. Construiu ali um altar dedicado ao Senhor e invocou o nome do Senhor. Depois Abrão partiu e prosseguiu em direção ao Neguebe. Houve fome naquela terra, e Abrão desceu ao Egito para ali viver algum tempo, pois a fome era rigorosa”. (Gênesis 12:8-10). Abrão por um momento procurou refúgio, segurança e provisão no “mundo”, símbolo do Egito, e não continuou confiando em Deus. Esse é um lugar perigoso para o missionário, procurar refúgio, segurança e provisão nas pessoas e não no provedor que lhe chamou e lhe enviou, e que, agora caminha para lhe estabelecer.
Abrão teve retrocesso em sua missão quando desceu ao Egito. Ele mentiu para preservar sua esposa, ele trouxe uma serva egípcia Hagar, que lhe deu um filho que não era da promessa.
Quando Abrão quis retomar a sua caminhada em conhecer ao Senhor, ele teve que voltar ao lugar que ele parou, que ele tomou sua decisão errada, ao mesmo lugar onde o seu relacionamento com Deus tinha parado, e novamente ele levantar o Altar de Betel. “Saiu, pois, Abrão do Egito e foi para o Neguebe, com sua mulher e com tudo o que possuía, e Ló foi com ele. Abrão tinha enriquecido muito, tanto em gado como em prata e ouro. Ele partiu do Neguebe em direção a Betel, indo de um lugar a outro, até que chegou ao lugar entre Betel e Ai onde já havia armado acampamento anteriormente e onde, pela primeira vez, tinha construído um altar. Ali Abrão invocou o nome do Senhor”. (Gênesis 13:1-4).
Só que dessa vez, quando Abrão invocou o nome do Senhor no segundo altar em Betel, ele foi colocado para tomar outra decisão, escolher para onde ir, e se separar do seu sobrinho Ló. Abrão sede o seu direito de escolha para seu sobrinho, e depois da separação, ali no altar de Betel, o Senhor aparece e reestabelece comunicação com Abrão. “Disse o Senhor a Abrão, depois que Ló separou-se dele: “De onde você está, olhe para o Norte, para o Sul, para o Leste e para o Oeste: Toda a terra que você está vendo darei a você e à sua descendência para sempre. Tornarei a sua descendência tão numerosa como o pó da terra. Se for possível contar o pó da terra, também se poderá contar a sua descendência. Percorra esta terra de alto a baixo, de um lado a outro, porque eu a darei a você”. (Gênesis 13:14-17).
Concluímos esse estudo, pontuando a necessidade que o missionário tem de depender unicamente, exclusivamente de Deus em sua jornada. Desde o chamado até o estabelecimento, existe a jornada, a caminhada, e é nesse período que o missionário necessita, como Abrão necessitou, de se relacionar com Deus, de conhece-lo progressivamente e gradativamente, numa jornada de fé.
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Pastor Edmundo Ribeiro Felix, é pastor da Comunidade Evangélica Sal da Terra em Belo Horizonte, autor de vários livros, missionário, formado em Bacharelado em Teologia e Missologia pelo Instituto Oral Roberts na Coreia do Sul, serve a Missão Nations Help. Casado, pai de dois filhos e avô de duas netas e um neto.