Todo cristão verdadeiro reconhece a importância e o poder da oração. A Bíblia nos instrui a orar cotidianamente colocando diante de Deus nossas necessidades, ansiedades, aflições e pedindo que Ele mesmo nos supra com sua sabedoria, provisão, graça e fortalecimento. Todavia, a Bíblia não nos ensina a orarmos somente por nós mesmos, mas em favor dos outros.
O apóstolo Paulo costumeiramente citava em suas cartas as orações que fazia pelos irmãos em Cristo das comunidades que havia fundado e visitado. Paulo também relata suas orações em favor de seus compatriotas judeus que ainda não conheciam ao Senhor, para que tivessem a revelação da verdade do Evangelho e para que ele mesmo pudesse ser um instrumento nas mãos do Senhor para que isso ocorresse. Do mesmo modo, ele orava pelos gentios, para que fossem alcançados e salvos pela graça através do ministério que o Senhor lhe havia confiado de pregar a eles as boas novas.
Essa era a prática não somente do apostolo Paulo, mas de todos os apóstolos e discípulos de Cristo. O livro de Atos está repleto de orações feitas por eles pedindo ao Senhor a ousadia e a graça de compartilharem e viverem o Evangelho, de forma que o reino de Deus se expandisse e outros viessem a crer e serem salvos.
E assim como ocorre nas paginas da Bíblia, a história da igreja também nos mostra o poder da oração, não apenas como instrumento de livramento e fortalecimento do povo de Deus, mas com relação ao direcionamento e capacitação para o cumprimento da grande comissão, ou seja, do anuncio do evangelho a todos que ainda não ouviram.
Poderíamos citar inúmeras histórias e movimentos missionários que comprovam o poder da oração. Todavia, talvez aquele que demonstre isso de maneira mais inequivocamente clara, seja o movimento de oração surgido dentro da igreja dos morávios e que resultou no maior movimento missionário da história do mundo moderno.
Para você que, porventura, não conheça o movimento morávio, cabe contar um pouco sobre sua história. No século XVIII, na região então conhecida como Moravia, e que hoje podemos identificar como uma região da Europa central que constitui a parte oriental da República Tcheca, os cristãos de origem protestante estavam sendo duramente perseguidos pelo governo, então, católico e que via a expansão protestante como um perigo a seus interesses.
Em virtude da perseguição muitos estavam sendo expropriados de seus bens, expulsos de suas casas, agredidos e mesmo mortos. Alguns pastores se mobilizaram, então, com contatos que possuíam na busca de encontrar refugio para estes irmãos.
Foi assim que a partir do ano de 1722 um grupo de 300 irmãos morávios acabou encontrando refugio na propriedade do Conde Zinzendorf, na Saxonia (atual Alemanha). O conde era um homem de posses e extremamente temente a Deus, que, com extrema generosidade, acolheu todos aqueles irmãos.
Logo aqueles irmãos e o conde Zinzendorf decidiram que o melhor modo de resolverem quaisquer dificuldades e diferenças havidas no meio deles seria por meio de reuniões diárias de oração.
Iniciaram uma “Intercessão de Hora em Hora”: durante 24 horas por dia havia oração e cada irmão ou irmã tomava o seu lugar nesse rodízio. Começaram orando por si mesmos e suas necessidades. Aos poucos estavam orando uns pelos outros e buscando o direcionamento de Deus sobre como poderiam fazer sua vontade. A verdade é que a oração começou a transformar seus corações antes de mudar qualquer circunstância ou realidade externa. Aqueles irmãos começaram a se encher do Espirito de Deus e perceberam que estavam sedentos.
Pode parecer incrível para você, mas aquele movimento de oração e intercessão durou por mais de cem anos. Durante todo esse tempo, ininterruptamente, havia sempre alguém orando, clamando, intercedendo. Porém, o que é incrível, de verdade, foram as coisas que Deus começou a fazer a partir daquele movimento de oração não apenas naquela comunidade de fé, mas em todo o mundo no século XVIII, com consequências que chegam, inclusive, aos nossos dias.
A partir das orações Deus começou a mover os corações com a necessidade urgente de cumprirem a grande comissão. O Zelo pela obra de Deus começou a consumir aqueles irmãos. Eles pediram ao Senhor direcionamento e sabedoria para iniciarem o envio de missionários para diversas localidades para pregar as boas novas do Evangelho.
Em 1732 enviaram seus primeiros missionários. Eles foram para as ilhas virgens. No ano seguinte, 1733, enviaram missionários para a Groelândia. Em 1735 para o Suriname. Depois para a África do Sul, a Jamaica, as colônias inglesas na América, Austrália e até para o Tibe.
O conde Zinzendorf utilizou seus recursos pessoais para ajudar a enviar cada um dos missionários. E ele mesmo foi, por um tempo, missionário entre os índios americanos.
O zelo pela obra do Senhor os consumiu de tal forma, que alguns dos irmãos começaram a se vender como escravos para pagarem suas viagens e poderem evangelizar outros escravos.
Em uma destas viagens missionarias alguns irmãos morávios conheceram um jovem chamado John Wesley, que foi tão impactado pela experiencia de vida e fé destes irmãos que se consagrou como pregador a levar a palavra de Deus a todos quanto pudesse. O que, por sua vez, acabou levando ao avivamento que atingiu toda a Inglaterra, a partir das pregações de Wesley. O que, inclusive, levou ao movimento pelo fim da escravidão em terras inglesas pelos esforços de Wesley e outros homens valentes alcançados por este grande despertamento espiritual.
Bem como, na organização das primeiras juntas missionarias organizadas por diversas igrejas e organizações e que levou ao grande movimento de missões que levou o Evangelho para diversas partes da África, Américas, Asia.
Estamos falando de um verdadeiro movimento em cadeia que mudou a história do mundo e levou o Evangelho para inúmeros povos, culturas, tribos e línguas diferentes e que teve seu inicio naquelas reuniões de oração realizadas pela comunidade moravia.
Isso nos mostra o poder da oração não apenas em nossas vidas diárias, mas como o catalizador das mudanças que Deus que realizar no mundo em nosso tempo, assim como Ele tem feito ao longo de toda a história. Deus ouve as orações e as responde. Nem sempre mudando as circunstâncias externas, mas tocando e transformando nossos próprios corações e, de forma poderosa e soberana, nos utilizando para cumprir sua vontade e expandir seu reino.
Muitos de nós vemos apenas nossas limitações e pensamos que não somos capazes de tomar parte no movimento missionário. Que isso é apenas para alguns poucos mais corajosos e ousados, mas a verdade é que cada um de nós tem um papel na grande comissão. Papel este que começamos a desempenhar através das nossas orações em favor daqueles que nunca ouviram o Evangelho. Daqueles que vivem em contexto de guerra, fome, opressão e manipulação.
Nossas orações são usadas por Deus para mudar nossos próprios corações sobre nossa necessidade de engajamento e para mudar as circunstâncias daqueles que sofrem e não conhecem a Cristo. Tudo começa pela oração. Por isso, separe um tempo para orar, cotidianamente por um povo ou nação diferente colocando-os diante de Deus. Ore também pelos missionários que você conhece pedindo a direção, fortalecimento e capacitação do alto sobre suas vidas. Ore pelos cristãos que neste momento enfrentam perseguição.
Ore também por você, pedindo direção a Deus sobre como você pode se envolver pessoalmente naquilo que Deus esta fazendo entre as nações da terra hoje.
E saiba que o Senhor responde, como Ele mesmo nos diz no livro do profeta Isaias: “Antes de clamarem, eu responderei; ainda não estarão falando, e eu os ouvirei.” (Isaias 65: 24)
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Vanessa Miranda é advogada, pós graduada em direito Público. Formada também em teologia pela Faculdade Batista Mineira. Vice presidente da organização de treinamento e mobilização missionária M3 (Missão Mundo Muçulmano). Amante da Bíblia e da literatura. Apaixonada por Cristo e por sua igreja.