Havia uma grande ameaça sobre a cidade de Nínive, capital da Assíria. Deus destruiria aquele povo por causa dos seus pecados. Apesar da decisão divina, haveria um aviso e um prazo: 40 dias. Isso mostra o amor e a misericórdia, apesar da ira e da justiça. O mundo hoje também caminha para o juízo apocalíptico. Existe um prazo correndo, mas não sabemos sua duração.
Jonas foi o profeta escolhido e chamado para levar a mensagem àquela cidade. Deus poderia enviar anjos, mas ele prefere usar homens na maior parte das missões neste mundo. Os anjos não se identificam com a condição humana, pois nunca viveram como nós.
Jonas, ao contrário do que se poderia esperar, demonstrou grande indiferença aos problemas de Nínive. Afinal, os ninivitas não pertenciam ao povo de Israel. O texto não diz, mas talvez tenha sido este um dos motivos da atitude do profeta. Outra razão de sua recusa teria sido o medo, pois os assírios eram famosos por sua crueldade. Não era de se esperar que tratassem bem a um mensageiro da tragédia, principalmente estrangeiro.
Jonas só pensava em si mesmo, em salvar a própria pele. Numa atitude egoísta, desobedeceu a Deus, fugiu, entrou no navio para Társis, desceu ao porão e dormiu o sono do descaso.
Será que também estamos indiferentes diante dos males que afetam nossa cidade, nosso país, nosso povo ou até outros povos? Jonas era profeta, mas não seria um bom missionário.
Então, Deus provocou uma grande tempestade no mar. Ele faz isso para nos tirar da nossa zona de conforto. A tranquilidade nem sempre é boa. Então, Deus agita o nosso barco para nos despertar.
Jonas acordou, mas não orou. A dureza do seu coração era terrível. Enquanto os marinheiros clamavam aos seus deuses, Jonas não clamou ao Senhor. Ele reconheceu seu erro, mas não pediu perdão. Por isso, algo pior aconteceria. Na sequência, como se sabe, o profeta foi lançado ao mar, foi engolido por um grande peixe e no seu ventre ficou durante três dias. Finalmente, quebrantado por sua tribulação, Jonas clamou ao Senhor e foi vomitado em terra firme. Felizmente, Deus não havia desistido dele.
O profeta quase morreu por causa do ministério sem ao menos ter sido perseguido. Seu sofrimento se deu por sua desobediência e absoluta falta de sintonia com Deus. O mesmo pode ocorrer conosco quando insistimos em caminhos diferentes da direção divina. Assim, vivemos problemas desnecessários e lutas que poderiam ter sido evitadas.
O maior problema no livro de Jonas é ele mesmo, tanto para si, como para os marinheiros e para o pobre peixe que sofreu três dias com uma terrível indigestão.
Nós, que somos filhos de Deus, devemos ser a solução e não o problema, em casa, no trabalho, na escola, na igreja ou no campo missionário. Certamente, algumas situações fogem ao nosso controle e acabamos dando “trabalho” a alguém, mas que o motivo não seja a desobediência a Deus.
A profecia de Jonas foi apenas uma frase de sete palavras: “Ainda quarenta dias, e Nínive será destruída” (Jn 3.4). A maior parte do livro gira em torno do próprio profeta. A desobediência complica a vida, criando problemas que roubam tempo, energia e outros recursos que poderiam ser usados para ajudar o próximo.
No final da narrativa, Jonas se compadeceu de uma planta, mas não das pessoas, demonstrando assim uma preocupante troca de valores. Jonas era profeta, mas nunca seria um bom intercessor. Ele não orou pela cidade, mas só por si mesmo. Algumas vezes, reclamou de Deus, deixando o mau exemplo de um pregador que tem a mensagem certa, mas o coração errado.
Jonas demonstrou grande insensibilidade e falta de amor ao próximo. Quando saiu e ficou observando a cidade, seu sonho era assistir uma chuva de fogo e enxofre para consumir o povo e os animais. Será que somos assim também? Somos insensíveis? Estamos acostumados à desgraça alheia? A sobrecarga de notícias ruins que nos atinge todos os dias pode ter o efeito colateral de nos tornar indiferentes. Se morrem cem pessoas em determinado lugar, nem nos assustamos mais.
Ficou evidente o contraste entre o caráter do profeta e o caráter de Deus. O juízo e a misericórdia estão presentes em todo o livro. Quando Jonas fugiu, Deus trouxe juízo em forma de tempestade, mas Jonas foi salvo pela misericórdia. A mensagem do profeta era um aviso do juízo sobre a cidade, mas os ninivitas foram salvos pela misericórdia. Em todos os casos, a resposta humana à graça divina precisa existir e ser coerente, mostrando arrependimento por meio do jejum, da confissão e do clamor.
Faltou misericórdia no coração de Jonas, mas, no Novo Testamento, encontramos o missionário perfeito: Jesus Cristo. Seu coração era movido pela compaixão. Por isso, Ele agiu em favor dos oprimidos e os ajudou. O amor pela humanidade levou Jesus à cruz. Como Jonas ficou três dias no ventre do peixe, Cristo esteve três dias na sepultura. Quando ressuscitou e subiu ao céu, deixou para este mundo a mensagem da salvação.
Nós, Igreja de Jesus, precisamos clamar para que o Espírito Santo derrame amor em nossos corações. Que a compaixão pelos perdidos nos mova no sentido de pregar o Evangelho. Que façamos diferença em nossa cidade e entre as nações, anunciando o juízo e a misericórdia, antes que seja tarde.
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Pr. Anísio Renato de Andrade é analista de sistemas, pós-graduado em Tecnologia da Informação e bacharel em Teologia. Pastor auxiliar na Igreja Batista da Lagoinha e vice-presidente da Associação Oni Movement.